A Virtude dos Fortes

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A virtude se esconde. Não por medo, mas porque o mundo parece ter desaprendido. Gestos nobres são confundidos com fraqueza.

Ajoelhar-se virou virtude. Mesmo que seja diante do erro. Há uma confusão entre servir e rastejar. A nobreza cristã de servir ao próximo, como ensinada por Cristo, foi diluída em uma caricatura, a do servo sem espírito, do cordeiro que se orgulha da própria inutilidade, confundindo pureza com impotência.

Jesus ajoelhou-se para lavar pés, mas levantou-se com chicotes nas mãos para purificar o templo. Ele serviu, mas nunca curvou-se aos hipócritas. O servo fiel é aquele que, mesmo com a toalha nos ombros, caminha com a cabeça erguida. A lealdade cristã não é obediência cega à vontade alheia, mas fidelidade à verdade. E a verdade, como se sabe, nem sempre é cortês.

Maquiavel, com seu realismo brutal, nos adverte: os bons, quando inofensivos, tornam-se irrelevantes. A virtude, sem força, vira ornamento, e ornamentos são facilmente descartáveis. O mundo, esse campo de batalha entre impérios e ideologias, não recompensa cordeiros que se entregam sem resistência. Uma fé que se recusa a enfrentar o mal está apenas maquiando sua própria omissão.

Entre a astúcia do Príncipe e o Sermão da Montanha há um abismo. Mas também uma ponte. Essa ponte é a consciência. Não se trata de negar a mansidão, mas de temperá-la com discernimento. O cristão não é um tolo nem um escravo voluntário. O mesmo Cristo que disse "Amai os vossos inimigos" também advertiu: “Eis que vos envio como ovelhas entre lobos; sejam, pois, prudentes como as serpentes e simples como as pombas.”

Prudência não é covardia. Simplicidade não é estupidez. O ideal cristão não exige que sejamos ingênuos, apenas íntegros. A verdadeira caridade não consiste em aceitar humilhações impostas nem em lamber botas por moedas sujas. Ser bom não é ser bobo. E ser leal, sem autoridade, é apenas ser um servo que perdeu o senso do próprio valor.

Aqueles que confundem humildade com passividade constroem um mundo onde os justos vivem de joelhos e os maus governam em pé. Uma sociedade que promove o servilismo como virtude não é uma sociedade cristã, é uma corte decadente, onde se premiam os bajuladores e se crucificam os íntegros.

A verdadeira virtude é aquela que sabe servir sem se submeter, que ama sem se vender, que respeita sem se calar. É nessa tensão, entre a mansidão e a firmeza, que se forjam os líderes que não traem nem a fé, nem a razão. A cruz não foi o destino de um fraco submisso, mas a escolha consciente de um Rei que enfrentou o mundo sem jamais dobrar os joelhos à mentira.


José Rodolfo G. H. de Almeida é escritor e editor do site www.conectados.site

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The Virtue of the Strong


Virtue hides. Not out of fear, but because the world seems to have forgotten how. Noble gestures are mistaken for weakness.

Kneeling has become a virtue. Even when faced with error. There is confusion between serving and crawling. The Christian nobility of serving others, as taught by Christ, has been diluted into a caricature, that of the spiritless servant, the lamb who is proud of his own uselessness, confusing purity with impotence.

Jesus knelt to wash feet, but rose with whips in his hands to purify the temple. He served, but never bowed to hypocrites. The faithful servant is the one who, even with a towel on his shoulders, walks with his head held high. Christian loyalty is not blind obedience to the will of others, but fidelity to the truth. And the truth, as we know, is not always polite.

Machiavelli, with his brutal realism, warns us: the good, when harmless, become irrelevant. Virtue, without strength, becomes an ornament, and ornaments are easily discarded. The world, this battlefield between empires and ideologies, does not reward lambs who surrender without resistance. A faith that refuses to face evil is only covering up its own omission.

Between the cunning of the Prince and the Sermon on the Mount there is an abyss. But there is also a bridge. This bridge is conscience. It is not a question of denying meekness, but of tempering it with discernment. The Christian is not a fool or a voluntary slave. The same Christ who said, “Love your enemies,” also warned: “Behold, I send you forth as sheep among wolves: be ye therefore wise as serpents, and harmless as doves.”

Prudence is not cowardice. Simplicity is not stupidity. The Christian ideal does not require us to be naive, only upright. True charity does not consist in accepting imposed humiliations or in licking boots for dirty coins. Being good is not being stupid. And being loyal, without authority, is just being a servant who has lost the sense of his own worth.

Those who confuse humility with passivity build a world where the righteous live on their knees and the wicked rule standing up. A society that promotes servility as a virtue is not a Christian society, it is a decadent court, where flatterers are rewarded and the upright are crucified.

True virtue is that which knows how to serve without submitting, that which loves without selling out, that which respects without keeping quiet. It is in this tension, between meekness and firmness, that leaders are forged who betray neither faith nor reason. The cross was not the destiny of a weak and submissive person, but the conscious choice of a King who faced the world without ever bending his knees to lies.


José Rodolfo G. H. de Almeida is a writer and editor of the website www.conectados.site

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