Silêncio, o Estado Está Falando - A Lógica do Terror

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Nenhuma ideologia genocida jamais se apresentou como tal. Nenhuma chegou à história com os punhos ensanguentados, elas sempre vieram de mãos estendidas, prometendo redenção. Se o Inferno tivesse um departamento de marketing, as ideologias modernas seriam seu portfólio premiado. Disfarçadas de compaixão, pavimentaram as avenidas da história com cadáveres, tudo em nome do “bem comum”.

O comunismo é o arquétipo desse engodo. Nasceu como um grito contra a miséria e a exploração, e terminou como a maior máquina de moer vidas humanas já construída pelo homem. Prometeu igualdade e entregou escassez, prometeu liberdade e ergueu muros, prometeu paz e inaugurou o terror. Seus líderes, de Lênin a Mao, de Pol Pot a Fidel, não falavam em poder absoluto, mas em justiça. E justiça, nas bocas certas, sempre pode ser manipulada para justificar o injustificável. Queimaram igrejas em nome da razão, fuzilaram intelectuais em nome da ciência, e transformaram a fome em política de Estado. Onde prometiam o paraíso, deixaram apenas ossadas e silêncio.

O nacional-socialismo (Nazismo), não foi uma anomalia, mas uma derivação. Outra cabeça do mesmo monstro. Assim como todas as variantes do socialismo, defendia um Estado total, centralizador, controlador da economia, e compartilhava do mesmo desprezo visceral pela democracia liberal e pelo capitalismo genuíno. A diferença é que onde o comunismo via classes sociais, o nazismo enxergava raças. A lógica era idêntica: identifique um inimigo interno, acuse-o de todos os males e entregue ao Estado a missão de purificação. Troque o burguês pelo judeu, a foice pela suástica, a luta de classes pela luta racial, e voilà: o mesmo mecanismo de terror, agora com nova embalagem. O coletivo redentor mudava de nome, mas não de função.

Economicamente, o nazismo era apenas uma versão nacionalista da mesma distopia centralizada. As empresas privadas existiam apenas nominalmente. Na prática, funcionavam como braços estendidos do Estado, obedecendo ordens dos planejadores centrais. O discurso era patriótico, mas os métodos eram soviéticos.

E o que dizer do progressismo contemporâneo? Essa mistura letal de marxismo cultural, sentimentalismo barato e tecnocracia digital? Ao contrário dos seus antecessores, ele aprendeu com a história: descobriu que não precisa mais de tanques ou paredões. Basta um algoritmo. Promete salvar o mundo da ignorância, da intolerância, da dor e, nesse processo, dissolve lentamente tudo o que ainda resta de humano. Não queima livros, apenas os reescreve. Não prende dissidentes, apenas os silencia com “moderadores de conteúdo”. Sua ambição não é mais controlar o corpo, é moldar a consciência.

A alma humana é desidratada aos poucos, como um inseto preso em formol. Tudo é feito com paciência, método e linguagem. Palavras são recicladas, significados são invertidos, virtudes são reduzidas a performances públicas. Amor vira licença para censura. Liberdade vira prerrogativa do Estado. E a verdade? A verdade é apenas um construto social a ser desconstruído por especialistas em ressentimento.

O pior de tudo é que essa farsa redentora funciona porque encontra eco no vazio existencial moderno. O homem desancorado, sem fé, sem história, sem comunidade, torna-se presa fácil para qualquer promessa de sentido. Ele deseja salvação, mas rejeita o Salvador. E, no desespero, se agarra a qualquer seita que lhe ofereça propósito, mesmo que seja às custas da própria dignidade.

Por isso, não estamos apenas diante de um fenômeno político. Estamos diante de uma febre espiritual. As ideologias redentoras são religiões de segunda classe, simulacros de transcendência, que substituem a cruz pela foice, a fé pela dialética, o pecado pelo privilégio, e a redenção pela utopia coletiva. Seu templo é o Estado, seu clero são os burocratas, e seu inferno é reservado para aqueles que ousam discordar.

O século XX nos deu todas as advertências. Cem milhões de mortos depois, ainda há quem acredite no disfarce. Ainda há quem veja esperança em projetos que já mostraram sua natureza assassina. E o mais assustador: há quem deseje ardentemente fazer parte deles, não por ignorância, mas por fé cega, por ódio à liberdade, por necessidade de submissão.

A linguagem deve ser defendida. A história deve ser lembrada. E a liberdade, essa chama frágil, precisa de guardiões. Porque sempre que o homem esquece o preço da liberdade, alguém aparece para vendê-la de volta, em suaves parcelas de obediência.


José Rodolfo G. H. de Almeida é escritor e editor do site www.conectados.site

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Silence, the State is Speaking - The Logic of Terror


No genocidal ideology has ever presented itself as such. None of them arrived in history with bloodied fists; they always came with outstretched hands, promising redemption. If Hell had a marketing department, modern ideologies would be its prize portfolio. Disguised as compassion, they paved the avenues of history with corpses, all in the name of the “common good”.

Communism is the archetype of this deception. It was born as a cry against misery and exploitation, and ended up as the greatest machine for grinding human lives ever built by man. It promised equality and delivered scarcity, promised freedom and built walls, promised peace and inaugurated terror. Its leaders, from Lenin to Mao, from Pol Pot to Fidel, did not speak of absolute power, but of justice. And justice, in the right mouths, can always be manipulated to justify the unjustifiable. They burned churches in the name of reason, shot intellectuals in the name of science, and turned hunger into state policy. Where they promised paradise, they left only bones and silence.

National Socialism (Nazism) was not an anomaly, but a derivative. Another head of the same monster. Like all variants of socialism, it defended a total, centralizing State that controlled the economy, and shared the same visceral contempt for liberal democracy and genuine capitalism. The difference is that where communism saw social classes, Nazism saw races. The logic was identical: identify an internal enemy, accuse him of all evils, and entrust the State with the mission of purification. Replace the bourgeois with the Jew, the sickle with the swastika, the class struggle with the racial struggle, and voilà: the same mechanism of terror, now in a new package. The redeeming collective changed its name, but not its function.

Economically, Nazism was just a nationalist version of the same centralized dystopia. Private companies existed only in name. In practice, they functioned as extended arms of the state, obeying orders from central planners. The discourse was patriotic, but the methods were Soviet.

And what about contemporary progressivism? This lethal mix of cultural Marxism, cheap sentimentalism and digital technocracy? Unlike its predecessors, it has learned from history: it has discovered that it no longer needs tanks or walls. All it needs is an algorithm. It promises to save the world from ignorance, intolerance and pain, and in the process it slowly dissolves everything that remains human. It does not burn books, it only rewrites them. It does not arrest dissidents, it only silences them with “content moderators”. Its ambition is no longer to control the body, but to shape consciousness.

The human soul is slowly dehydrated, like an insect trapped in formaldehyde. Everything is done with patience, method and language. Words are recycled, meanings are inverted, virtues are reduced to public performances. Love becomes a license for censorship. Freedom becomes the prerogative of the State. And what about the truth? Truth is merely a social construct to be deconstructed by experts in resentment.

Worst of all, this redemptive farce works because it finds an echo in the modern existential void. The unanchored man, without faith, without history, without community, becomes easy prey for any promise of meaning. He desires salvation, but rejects the Savior. And, in desperation, he clings to any sect that offers him purpose, even at the cost of his own dignity.

That is why we are not simply facing a political phenomenon. We are facing a spiritual fever. Redemptive ideologies are second-class religions, simulacra of transcendence that replace the cross with the sickle, faith with dialectics, sin with privilege, and redemption with collective utopia. Its temple is the State, its clergy are the bureaucrats, and its hell is reserved for those who dare to disagree.

The 20th century has given us all the warnings. One hundred million dead later, there are still those who believe in the disguise. There are still those who see hope in projects that have already shown their murderous nature. And the most frightening thing: there are those who ardently desire to be part of them, not out of ignorance, but out of blind faith, out of hatred for freedom, out of a need for submission.

Language must be defended. History must be remembered. And freedom, that fragile flame, needs guardians. Because whenever man forgets the price of freedom, someone appears to sell it back, in gentle installments of obedience.


José Rodolfo G. H. de Almeida is a writer and editor of the website www.conectados.site

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