A palavra “República” tornou-se, em nosso tempo, um mero adereço retórico, um talismã vazio repetido por políticos, jornalistas e intelectuais de aluguel, sem que se conserve sequer uma sombra de sua substância original. Na boca deles, “República” não designa mais uma forma política fundada na responsabilidade moral e institucional dos cidadãos, mas apenas um som oco destinado a hipnotizar uma massa já embriagada por décadas de doutrinação.
Numa República autêntica, a autoridade política se funda na correspondência entre responsabilidade econômica e poder decisório. Aquele que sustenta o edifício social, por meio do trabalho, dos impostos, da produção, é quem, legitimamente, adquire o direito de deliberar sobre os rumos da comunidade. A lógica é tão simples que qualquer pessoa normal a compreende sem precisar de manuais de ciência política. Pensemos num condomínio, quem paga a taxa condominial vota nas assembleias e decide reformas e prioridades. O porteiro, ainda que digno, necessário e respeitável, não vota. Não por inferioridade humana, mas porque está em outra relação, ele recebe do condomínio, não o sustenta.
O porteiro, nesta alegoria, é o símbolo de uma massa crescente de cidadãos infantilizados pelo Estado. Não falo apenas dos beneficiários diretos de programas assistenciais, mas do vasto exército de servidores, terceirizados e dependentes de verbas públicas que, embora mantenham a ilusão de “contribuir”, vivem em última instância à custa do contribuinte real. Quando esse contingente se torna numericamente dominante no processo decisório, a lógica que prevalece não é mais a da preservação da República, mas a da maximização dos benefícios próprios, ainda que ao custo de endividar o país, destruir a produtividade e corroer a liberdade dos demais.
Troquemos agora o condomínio pela sua própria casa: você trabalha, paga contas, sustenta a família. Imagine, porém, que todas as decisões financeiras sejam transferidas ao seu filho, uma criança de cinco anos. O critério não será a prudência, mas o prazer imediato: brinquedos, doces, videogames. Agora imagine exatamente isso, só que em escala nacional: em vez de educar o cidadão para a autonomia, oferece-lhe “presentes” políticos, subsídios, regalias, promessas populistas. E, assim, transforma adultos em crianças grandes, sempre com a mão estendida.
Convém lembrar, que a meta final não é prover bem-estar, mas monopolizar os meios essenciais da vida. Transporte, saúde, alimentação e, sobretudo, educação. Nada disso é neutro; são instrumentos de domesticação. Quem controla o corpo e a mente controla também a alma. E quando o Estado detém o monopólio do pão e da consciência, a liberdade não é apenas ameaçada, ela já deixou de existir.
Eis a caricatura moderna da República, chamam isso de democracia, mas o nome nobre não encobre o fato que já não é República.
José Rodolfo G. H. Almeida é escritor e editor do site www.conectados.site
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The Republic
The word "Republic" has become, in our time, a mere rhetorical prop, an empty talisman repeated by politicians, journalists, and intellectuals for hire, without preserving even a shadow of its original substance. In their mouths, "Republic" no longer designates a political form founded on the moral and institutional responsibility of citizens, but merely a hollow sound designed to hypnotize a mass already intoxicated by decades of indoctrination.
In an authentic Republic, political authority is based on the correspondence between economic responsibility and decision-making power. Those who sustain the social edifice, through labor, taxes, and production, are the ones who legitimately acquire the right to deliberate on the direction of the community. The logic is so simple that any normal person can understand it without needing political science textbooks. Consider a condominium: those who pay the condominium fee vote in the assemblies and decide on reforms and priorities. The doorman, although dignified, necessary, and respectable, does not vote. Not because of human inferiority, but because he is in a different relationship, he receives from the condominium, but does not support it.
The doorman, in this allegory, is the symbol of a growing mass of citizens infantilized by the State. I'm not just talking about the direct beneficiaries of welfare programs, but the vast army of civil servants, outsourced workers, and those dependent on public funds who, while maintaining the illusion of "contributing," ultimately live at the expense of the real taxpayer. When this contingent becomes numerically dominant in the decision-making process, the prevailing logic is no longer that of preserving the Republic, but of maximizing one's own benefits, even at the cost of indebting the country, destroying productivity, and eroding the freedom of others.
Let's now swap the condominium for your own home: you work, pay bills, and support your family. Imagine, however, that all financial decisions are transferred to your five-year-old son. The criterion will not be prudence, but immediate pleasure: toys, candy, video games. Now imagine exactly this, only on a national scale: instead of educating citizens for autonomy, it offers them political "gifts," subsidies, perks, and populist promises. And thus, it turns adults into overgrown children, always with their hand outstretched.
It's worth remembering that the ultimate goal is not to provide well-being, but to monopolize the essential means of life: transportation, healthcare, food, and, above all, education. None of these are neutral; they are instruments of domestication. Whoever controls the body and mind also controls the soul. And when the State holds a monopoly on bread and conscience, freedom is not only threatened, it has ceased to exist.
This is the modern caricature of the Republic. They call it democracy, but the noble name doesn't disguise the fact that it is no longer a Republic.
José Rodolfo G. H. Almeida is a writer and editor of the website www.conectados.site
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