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Mostrando postagens de setembro, 2025

O Mito de Prometeu e a Hybris Tecnológica

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  O mito de Prometeu é uma parábola sobre os limites do humano diante do divino. O titã que ousou roubar o fogo dos deuses não entregou apenas calor ou ferramenta ao homem, entregou-lhe a tentação de se colocar como senhor daquilo que não criou. O fogo, metáfora da inteligência e da autonomia divina, foi usurpado, e não dado. Desde esse gesto inaugural, simbólico mas revelador, a civilização teria passado a carregar consigo a marca da hybris, essa arrogância que leva o homem a confundir poder com transcendência. Não é difícil perceber a repercussão desse mito no presente. Cada novo avanço técnico, inteligência artificial, manipulação genética, transumanismo, se apresenta como se fosse uma epifania, quando na verdade repete a mesma cena arquetípica, mãos profanas tentando arrebatar aquilo que pertence ao plano do sagrado. Assim como Prometeu não escapou de sua punição, nós tampouco escapamos das correntes que fabricamos com as próprias mãos. A mitologia grega, já advertia, a ordem c...

A Política dos Canalhas

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A política, desligada da virtude, não é política, é encenação. Uma encenação farsesca, onde cada personagem acredita estar desempenhando o papel de estadista, mas não passa de bufão.  Um povo pode exibir constituições vistosas, economistas laureados e generais com a farda engomada. Pode multiplicar leis como coelhos, construir tribunais monumentais e proclamar solenemente direitos humanos em conferências internacionais. Nada disso o salva, se a alma coletiva se divorcia da virtude. Nesse caso, as instituições se tornam apenas adereços funerários, ornamentos num cadáver ainda quente. É o que Tácito já percebia em Roma, quanto mais leis, mais corrupção. Não porque a lei seja inútil, mas porque sem homens virtuosos a lei é apenas papel morto, sem carne, sem sangue, sem vida. E não se engane, quando o Estado multiplica leis, não multiplica direitos, mas sim obrigações. E as leis que transformam favores em “direitos adquiridos”, essa indústria populista da generosidade estatal, são o ex...

Filosofia para Homens Comuns

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  Muitos acreditam que filosofia é algo distante, reservado a bibliotecas empoeiradas e a acadêmicos de óculos grossos. Nada mais enganoso. A filosofia nasceu no pátio da vida, não no gabinete universitário. Sócrates não escreveu tratados, caminhava pela praça interrogando homens comuns. O pensamento filosófico não é um luxo da elite intelectual, mas uma exigência de sobrevivência. Pois viver sem filosofia é viver sem bússola, reduzido a reagir a estímulos, como animal domesticado. A questão é simples e devastadora, se o homem não ordena sua vida à luz da verdade, sua vida será ordenada pela mentira de outrem. E nesse ponto entra o primeiro dos nossos temas: a programação universal. Não falo de astrologia, nem de determinismo científico, mas da constatação clássica de que o cosmos tem estrutura inteligível, uma ordem que se manifesta no ritmo dos astros, no ciclo da natureza, no próprio logos que a mente humana é capaz de apreender. O universo não é um acidente; é uma escrita. Ler ...

Quando a Política se Torna Teologia Profana

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  A figura do Estado moderno não nasceu de uma progressão natural da vida em sociedade, como se fosse apenas um refinamento técnico das regras de convivência. Não, o Estado nasceu de uma decisão metafísica, de um ato de usurpação do sagrado. Ele se ergueu como substituto da transcendência, como um sucedâneo terrestre do divino. Quando Hobbes escreveu o Leviatã, não fundou apenas uma teoria política, inaugurou uma religião invertida. No altar, já não mais Deus, mas o contrato social; no lugar de sacerdotes, uma burocracia; e no trono, não o Criador, mas o funcionário público. O que é o burocrata senão o parasita coroado? Ele é o sacerdote dessa nova fé. Não pede esmolas, mas impostos; não promete a salvação eterna, mas benefícios sociais; não se apresenta em batina, mas de terno. Sua missão é sugar a vitalidade da sociedade produtiva, não para criar, mas para redistribuir migalhas de um banquete que ele mesmo jamais cozinhou. A expansão estatal não é, como dizem os economistas domes...

A República

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A palavra “República” tornou-se, em nosso tempo, um mero adereço retórico, um talismã vazio repetido por políticos, jornalistas e intelectuais de aluguel, sem que se conserve sequer uma sombra de sua substância original. Na boca deles, “República” não designa mais uma forma política fundada na responsabilidade moral e institucional dos cidadãos, mas apenas um som oco destinado a hipnotizar uma massa já embriagada por décadas de doutrinação. Numa República autêntica, a autoridade política se funda na correspondência entre responsabilidade econômica e poder decisório. Aquele que sustenta o edifício social, por meio do trabalho, dos impostos, da produção, é quem, legitimamente, adquire o direito de deliberar sobre os rumos da comunidade. A lógica é tão simples que qualquer pessoa normal a compreende sem precisar de manuais de ciência política. Pensemos num condomínio, quem paga a taxa condominial vota nas assembleias e decide reformas e prioridades. O porteiro, ainda que digno, necessário...