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Quando a Imaginação se Torna Prisão

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  Há poderes que governam o corpo e há poderes que governam o espírito. Mas de todos, o mais profundo é aquele que se instala no imaginário, esse território interior onde o homem concebe o sentido das coisas. Desde Platão, a filosofia intuiu essa verdade. No mito da caverna, os prisioneiros veem apenas sombras projetadas na parede e as tomam por realidade. A imagem precede o conceito; o olhar determina o juízo. O que Platão denunciava não era apenas uma ignorância intelectual, mas uma prisão imaginativa, um condicionamento simbólico. O prisioneiro não está enganado por falta de lógica, mas porque o universo de imagens que o cerca não lhe permite conceber outra realidade além daquela projetada. O primeiro ato de libertação não é racional, mas imaginativo: é preciso ver diferente para começar a pensar diferente. O imaginário, neste sentido, é o fundo ontológico da consciência. Não há pensamento sem imagem, assim como não há palavra sem mundo. A imaginação é a oficina onde o espírito ...

A PRESENÇA DO SER NECESSÁRIO — INTUIÇÃO, VERDADE E FUNDAMENTO NA FILOSOFIA CLÁSSICA

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A reflexão filosófica sobre o fundamento da realidade conduz inevitavelmente à distinção entre o ser contingente, que pode não ser, e o ser necessário, que não pode deixar de ser. A metafísica clássica, a partir de Aristóteles e retomada por Tomás de Aquino, compreende que toda cadeia causal e todo processo de conhecimento repousam sobre princípios primeiros, indemonstráveis, mas autoevidentes. Este artigo propõe que o problema do regresso infinito do pensamento não se resolve apenas por dedução racional, mas encontra solução na intuição intelectual, isto é, na apreensão direta e imediata do ser. Nessa visão, o intelecto humano participa ontologicamente da Verdade e, ao apreender o que é, toca o próprio Ser necessário. O fundamento não se situa além da inteligência, mas se manifesta no próprio ato de conhecer, unindo metafísica e gnosiologia em um mesmo horizonte.  Toda reflexão sobre o fundamento da realidade exige distinguir o que pode não ser daquilo que não pode deixar de ser. ...

Entre o Verbo e a História - ensaio sobre o profetismo e a restauração do espírito

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  Resumo Este ensaio propõe uma reflexão filosófico-teológica sobre o papel do profeta como agente criador da história. Em contraste com a concepção moderna de previsibilidade e controle técnico do futuro, argumenta-se que o profetismo constitui o ponto de interseção entre o humano e o transcendente, a reintegração da causalidade espiritual na matéria histórica. A análise percorre as consequências antropológicas dessa ruptura, o nascimento da interioridade cristã, o monaquismo como paradigma civilizacional e a crise contemporânea de consciência moral. Entre o Verbo e a História - ensaio sobre o profetismo e a restauração do espírito O homem moderno, esse ser ansioso por prever, acredita que, se conhecer as curvas de uma planilha, dominará o destino. Mas não há erro mais profundo. O profeta, em sua acepção original, não prevê, ele faz ser. A etimologia grega de prophero indica “fazer surgir”, “trazer à luz”. O profeta é o instrumento humano da causalidade espiritual; não o espectado...

O Cristianismo e a Liberação da Consciência Humana

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  Nós, modernos, nos iludimos com uma adesão fácil e superficial a "verdade interior". Não seria essa verdade, em sua essência mais profunda, algo que demanda discrição, um recolhimento que resguarde sua integridade contra a profanação do público? Não falo de uma filosofia de gabinete, que se contenta em dissecar conceitos, sem jamais tocar a ferida aberta da condição humana. Refiro-me a uma investigação onde o indivíduo confronta o que é eterno e o que é efêmero, entre o sagrado íntimo e os rituais coletivos que, por mais vazios e deteriorados, ainda exercem seu domínio simbólico até que o véu se rasgue. Consideremos, por exemplo, as antigas tradições esotéricas, pense em Plotino, com sua ascensão dialética ao Uno, ou em Meister Eckhart, que sussurrava sobre o "fundo da alma" onde Deus se revela sem intermediários, tradições que guardavam o núcleo transcendental como um segredo para iniciados, não por elitismo, mas por reconhecer que a exposição prematura ao vulgo ...