Quando a Imaginação se Torna Prisão
Há poderes que governam o corpo e há poderes que governam o espírito. Mas de todos, o mais profundo é aquele que se instala no imaginário, esse território interior onde o homem concebe o sentido das coisas. Desde Platão, a filosofia intuiu essa verdade. No mito da caverna, os prisioneiros veem apenas sombras projetadas na parede e as tomam por realidade. A imagem precede o conceito; o olhar determina o juízo. O que Platão denunciava não era apenas uma ignorância intelectual, mas uma prisão imaginativa, um condicionamento simbólico. O prisioneiro não está enganado por falta de lógica, mas porque o universo de imagens que o cerca não lhe permite conceber outra realidade além daquela projetada. O primeiro ato de libertação não é racional, mas imaginativo: é preciso ver diferente para começar a pensar diferente. O imaginário, neste sentido, é o fundo ontológico da consciência. Não há pensamento sem imagem, assim como não há palavra sem mundo. A imaginação é a oficina onde o espírito ...