A Alma Filosófica Não se Produz em Laboratório

Nem todo pensamento nasce do cálculo, da gramática das escolas ou das metodologias proféticas dos departamentos universitários. Há pensamentos que irrompem como ventos, súbitos, inclassificáveis, incômodos. E porque não se encaixam em nenhum molde, são descartados pelos espíritos domesticados. Mas isso não os torna menos reais. Pelo contrário. Há verdades que não precisam de aval, impõem-se, não por consenso, mas por evidência. Contudo, contra esse sopro da evidência, ergue-se a muralha da distração. Uma distração que já não é apenas ruído acidental, mas uma engenharia de embotamento psíquico. O homem moderno — ou melhor, o homúnculo digital — não apenas ignora, ele se disciplina para calar toda reverberação do invisível. Sua surdez não é passiva: é militante. Mas nem mesmo essa surdez programada, essa abdicação ativa da interioridade, consegue suprimir o mais escandaloso dos fatos: há uma ordem. E que ordem é essa? Certamente não falo da ordem newtoniana, que ainda inspira os aprendiz...