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Mostrando postagens de maio, 2025

Revolução - Notas para uma autópsia da esperança pervertida

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  A revolução, ao contrário do que apregoam os aprendizes da nova fé secular, não é um clamor espontâneo dos oprimidos, é uma ficção intelectual, meticulosamente arquitetada por engenheiros sociais cuja patologia profunda é a negação da realidade. Confundida com rebeldia moral, com inconformismo diante da injustiça, ela é, na verdade, um sintoma avançado de niilismo, disfarçado de virtude. Não se engane: o revolucionário típico não busca corrigir as imperfeições do mundo, mas substituí-lo por uma caricatura ideológica. A mentalidade revolucionária nasce de uma recusa, não de uma proposta: recusa da tradição, da ordem espontânea, da herança cultural, da hierarquia natural, da transcendência. Sua utopia é um mundo onde nada nos precede, onde tudo pode ser reinventado sob medida, ao gosto do demiurgo ressentido que o habita. Todo revolucionário é, no fundo, um iconoclasta litúrgico: a sua religião é o culto da demolição. Ele não ama o futuro, ele odeia o passado. Por isso, sua linguag...

O Parasita de Terno - Se Disfarça de Pai

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  Poucos delírios modernos se comparam, em gravidade e amplitude, à crença pueril de que o Estado é uma entidade benigna, espécie de pai previdente a zelar pelo bem-estar de seus filhos. Tal ilusão que seria apenas risível, não fosse trágica, foi sistematicamente incutida na alma coletiva por um consórcio de intelectuais, burocratas e pedagogos estatais que, ao longo do século XX, confundiram autoridade com beneficência, coerção com justiça, e a mais brutal das estruturas de dominação com um ideal moral. Convém, antes de tudo, limpar a lente. O Estado, tomado em sua realidade histórica concreta, e não nas mitologias com que se fantasia em currículos escolares, jamais foi apenas um árbitro neutro entre partes. Sua natureza é essencialmente expansiva, parasitária, hegeliana até o osso: ele não se contenta em governar, deseja encarnar o todo. Nas palavras de Tocqueville, “não quebra os corpos, mas rebaixa as almas”. A sua especialidade não é administrar conflitos, mas criá-los, e em s...

A Alma Filosófica Não se Produz em Laboratório

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Nem todo pensamento nasce do cálculo, da gramática das escolas ou das metodologias proféticas dos departamentos universitários. Há pensamentos que irrompem como ventos, súbitos, inclassificáveis, incômodos. E porque não se encaixam em nenhum molde, são descartados pelos espíritos domesticados. Mas isso não os torna menos reais. Pelo contrário. Há verdades que não precisam de aval, impõem-se, não por consenso, mas por evidência. Contudo, contra esse sopro da evidência, ergue-se a muralha da distração. Uma distração que já não é apenas ruído acidental, mas uma engenharia de embotamento psíquico. O homem moderno — ou melhor, o homúnculo digital — não apenas ignora, ele se disciplina para calar toda reverberação do invisível. Sua surdez não é passiva: é militante. Mas nem mesmo essa surdez programada, essa abdicação ativa da interioridade, consegue suprimir o mais escandaloso dos fatos: há uma ordem. E que ordem é essa? Certamente não falo da ordem newtoniana, que ainda inspira os aprendiz...